quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

“Vai ver se estou online!”



Ligam-se à "net" por volta dos 9 anos. E, 85% das crianças e jovens usam a rede para fazer trabalhos pedidos na escola, revela um dos maiores estudos sobre a sua utilização da Internet. Comunicar nas redes sociais é uma atividade que ocupa 82% dos adolescentes com idades entre os 15 e os 16 anos. Os blogs são os novos diários, já menos secretos. Apesar disso, os utilizadores estão a ter mais cuidado com a informação que partilham.

"A rapidez com que crianças e jovens estão a ganhar acesso aos meios de comunicação online, convergentes, móveis e em rede, não tem precedentes na história da inovação tecnológica." A convicção escrita no relatório EU Kids Online sobre "Riscos e Segurança na Internet" confirma a ideia há muito debatida por quem estuda a educação para os media.

A forma como os mais novos estão a usar a Internet foi objeto de uma pesquisa inédita envolvendo 25 países da Europa. Os dados recolhidos em 2010 permitiram identificar as experiências no mundo digital de 25 142 utilizadores, com idades entre os 9 e os 16 anos. Das respostas ressalta um facto esperado. A Internet está a ser integrada na rotina diária das famílias europeias. Mas o seu uso faz-se a ritmos diferentes.

"Apesar da retórica sobre os nativos digitais, continuam a faltar recursos a muitas crianças para explorar suficientemente a Internet de modo a desenvolver as competências vitais", alertam os investigadores do London School of Economics and Political Sciense que coordenaram o estudo cofinanciado pela União Europeia.

Na "net" aos 9 anos
As crianças estão a usar a Internet cada vez mais cedo. Os 9 anos são a média europeia para o primeiro acesso. Apenas um senão: estar online antes de adquirir as competências adequadas, "pode por si só constituir um risco", alertam os responsáveis pelo EU Kids Online.

A tendência da entrada precoce no mundo virtual é confirmada pela comparação entre as faixas etárias. Os jovens de 15 e 16 anos revelam ter começado a navegar com 11 anos de idade. Enquanto as crianças de 9 e 10 anos, afirmam tê-lo feito aos sete.

Analisando cada país, e tendo em conta todas as idades, apenas a Dinamarca e a Suécia mantêm os sete anos como a idade do primeiro acesso à Internet. Abaixo da média europeia estão Portugal, Áustria, Alemanha, Chipre, Turquia, Itália e Grécia, onde a experiência se faz mais tarde, aos dez anos.

Relativamente à frequência com que acedem à Internet, 93% dos utilizadores entre os 9 e 16 anos está online pelo menos uma vez por semana (destes, 60% estão na "net" quase todos os dias). Uma minoria de 5% revelam estar online uma a duas vezes por mês e 2% afirmam estar menos que isso.

Apesar do acesso à Internet estar disseminado, as diferenças socioeconómicas das famílias determinam a qualidade da sua utilização. É de esperar que as crianças mais favorecidas possam, por exemplo, ligar-se mais vezes e em melhores condições: a partir do seu quarto usando dispositivos portáteis.

Em média, 67% das crianças de agregados elevados estão diariamente online. Em meios mais desfavorecidos, apenas 52% acedem à "net" com a mesma regularidade.

Mas usar a Internet mais cedo não significa gostar dos seus conteúdos. Os mais pequenos não estão satisfeitos com o que lhes é oferecido. A descoberta "constitui um convite à atenção dos decisores políticos", lê-se nas conclusões do estudo.

Em casa e na escola
Os pontos de acesso ao mundo online diversificam-se. Computador, telemóvel e outros dispositivos portáteis permitem a ligação em qualquer local e a toda a hora, impondo num ritmo que os pais nem sempre conseguem acompanhar.

No entanto, "é provável que o aumento do uso facilite a literacia digital e a aquisição de competências ao nível da segurança", dizem os investigadores.

A descoberta de que 87% das crianças e jovens navegam a partir de casa (49% do seu quarto, 38% de outra divisão) leva os investigadores a sugerir que "os pais estão na melhor posição para mediar a utilização da Internet".

A escola é o segundo lugar de acesso ao mundo digital para 63% dos inquiridos. "Os professores têm um papel importante a desempenhar no que toca à educação das crianças para o uso seguro e responsável da Internet", lê-se entre as conclusões deste estudo.

Mas existem ainda dois locais onde a maior parte das crianças também se conecta: a casa de amigos (53%) e de familiares (42%). Apesar do acesso à Internet a partir de lugares públicos ser menos comum, 12% dos inquiridos ainda o fazem em cibercafés e outros 12% em bibliotecas.

O acesso fora de casa e da escola leva os responsáveis pelo estudo a apontar alternativas à mediação parental. "Há um grupo mais vasto de adultos cujo potencial em termos de orientação e supervisão das crianças e jovens está pouco aproveitado - pais de amigos, outros parentes, bibliotecários, donos de ciber cafés", concluem.

Não só muda o espaço, mas também o meio através do qual o acesso é feito. O computador pessoal continua a ser o principal meio de acesso à Internet, mas as crianças europeias usam em média dois meios distintos para estar online. Cresce o uso de telemóveis e de outros dispositivos portáteis: 33% das crianças e dos jovens estão online usando o iPod, o iPhone ou o Blackberry.

Para fazer os TPC...
As atividades que as crianças e os jovens realizam quando estão online são variadas e "potencialmente benéficas", dizem os investigadores.

Dos 9 aos 16 anos, 85% dizem usar a Internet essencialmente para fazer trabalhos para a escola (TPC), 83% para jogar jogos sozinho ou contra o computador, 76% para assistir a videoclips, 62% para usar as redes sociais e para enviar mensagens instantâneas e 61% para trocar emails. Estas são as atividades mais populares.

Consultar a Internet para ler ou ver as notícias é outra das atividades realizada por 48% dos inquiridos. Jogar online com outros utilizadores (44%), fazer downloads de músicas ou filmes (44%) também são boas razões para ‘estar ligado'.

Menos são os utilizadores que publicam imagens (39%) ou mensagens na Internet para partilhar com os outros (31%), usam a webcam (31%), sites de partilha de ficheiros (16%) ou escrevem em blogs (11%).

Medir a literacia digital dos jovens na realização destas atividades foi outro dos objetivos deste estudo que procurou identificar algumas competências no uso da Internet.

A maioria dos jovens entre os 11 e os 16 anos afirma tanto saber bloquear um website (64%), como pessoas com quem não quer contactar (64%) e encontrar a informação sobre como usar a Internet de forma segura (63%).

Curiosamente, pouco mais de metade (56%) sabe comparar sites e avaliar a qualidade da informação que disponibilizam, apagar o seu histórico de navegação (52%) e bloquear mensagens classificadas como "lixo" ou publicidade (51%). Apenas 28% sabem como mudar o filtro nas suas preferências.

Alterar as definições de privacidade do seu perfil é tarefa fácil para 56% dos jovens entre os 11 e os 16 anos, o que contrasta com a percentagem de jovens que utiliza as redes sociais, notam os investigadores. Como se verá adiante.

Somando todas estas competências, entre os mais dotados figuram as crianças e jovens da Finlândia, Eslovénia, Holanda e Estónia. Menos capacidades no uso da Internet mostram os utilizadores na Turquia, Itália, Roménia e Hungria.

... e comunicar...
Ainda que o Facebook se tenha tornado na mais popular, existe uma grande diversidade de redes sociais. Os adolescentes são os maiores entusiastas no seu uso: 82% na faixa dos 15 e 16 anos e 73% entre os 13 e os 14 anos.

O interesse por este tipo de aplicações cresce com a idade. Entre os 9 e os 10 anos, 26% das crianças afirmam ter um perfil, já entre os 11 e os 12 anos esse número sobe aos 49%. A popularidade varia também entre países: Holanda (80%), Lituânia (76%), Dinamarca (75%) reúnem o maior número de utilizadores nas faixas etárias inquiridas, menor na Roménia (46%), Turquia (49%) e Alemanha (51%).

O estudo mostra ainda que as crianças se preocupam em manter em privado alguma informação. Os investigadores acreditam que os pais estão a ter o cuidado de alterar as definições do perfil dos seus filhos já que muitos admitem não saber como o fazer. Razão pela qual os autores do estudo argumentam sobre a necessidade de dotar os mais novos de competências digitais.

Mas o perigo de ter um perfil público depende da informação publicada e do número de contactos, alertam os investigadores. Dos 59% de crianças e jovens europeus com um perfil numa rede social, 43% garantem mantê-lo em privado. Ou seja: visível apenas aos amigos. Sendo que 28% estendem a permissão aos contactos dos seus amigos. E 26% têm um perfil público, visível a qualquer utilizador do serviço.

Quanto ao número de contactos na rede social: 20% das crianças e jovens têm entre 100 e 300 ‘amigos' conectados a si, 50% têm menos de 50 e apenas 20% não chegam aos dez.
Grécia (20%), Portugal (14%) e Reino Unido (16%) apresentam as maiores percentagens de crianças e jovens com mais de 300 ‘amigos'. Com menos de dez contactos estão a Roménia (63%), Bulgária (52%), Chipre (44%) Alemanha (35%), Finlândia e Estónia (29%).

Apesar dos alertas, é entre os adolescentes que prevalece a maior percentagem de perfis públicos. Hungria (55%), Turquia (46%) e Roménia (44%) são os países com mais jovens a partilhar tudo com todos. Pelo contrário, menos de um quinto dos jovens admite fazê-lo no Reino Unido (11%), Irlanda (12%) e Espanha (14%).

Ainda assim um dado sobressai: sobretudo as crianças parecem estar a aprender que não é prudente publicar a sua morada ou número de telefone. Apenas 14% admitem publicar este tipo de informações, embora na Lituânia a média suba para os 35% e na Hungria para os 31%.

Em Portugal, o uso de redes socais cativa 59% de utilizadores entre os 9 e os 16 anos. E 25% têm um perfil que permite partilhar tudo com todos. O tipo de informação revelada pode constituir algum perigo, dizem os investigadores. Em 7% dos inquiridos, os perfis revelam a morada ou telefone, em 25% apresentam a idade falseada.

Mentir sobre a data de nascimento é frequente entre as crianças, que assim conseguem contornar restrições etárias de acesso às redes. Uma em cada seis publicou uma idade superior à sua. A prática é mais comum na Espanha (27%), na Dinamarca (25%), na Irlanda (24%) e no Chipre (23%).

Por último, os investigadores verificaram que todas as crianças incluíram no seu perfil pelo menos 2,8% de um somatório de dados reveladores da sua identidade: fotos do rosto, apelido, morada, número de telefone, a escola e a idade correta. As crianças portuguesas são as que menos dados identificativos publicam (2,1%); no lado oposto estão as húngaras (3,5%).

Responsabilidades
A responsabilidade sobre o tipo de informação requerida pelas redes recai sobre os seus criadores, alertam os investigadores: "Claramente, é preciso conseguir um equilíbrio entre o design dos sites, em particular dos usados por crianças, no que toca às suas definições e ao aconselhamento e alerta sobre o que publicar."

Mas os recados estendem-se também a pais, educadores e decisores políticos. "Os riscos surgem quando as crianças conquistam o acesso sem infraestruturas de consciencialização, de compreensão parental, regulação e segurança", lê-se no relatório.

E, mesmo que "as evidências encontradas não suportem a tese de que a Internet constitui um perigo para todas as crianças", os autores asseguram que "há espaço para a preocupação e a intervenção".

Por isso, o apelo final é dirigido aos decisores políticos. "Resta seguir duas estratégias de promoção: da contribuição dos educadores para ensinar literacia digital, e competências de autoproteção, às crianças e do papel autorregulador ou corregulador na gestão das tecnologias e serviços online".
Andreia Lobo
Fonte: Educare