Quando se fala de leitura infanto-juvenil, penso que será pertinente falar-se de leitura, de leitura para e de leitura com, cada um dos três tipos com atividades específicas.
Chamaria leitura, simplesmente leitura, a todas as atividades de leitura autónoma, seja recreativa, para investigação, para estudo ou para qualquer outro fim. Leitura para e leitura com implicam a intervenção e a colaboração de pelo menos duas pessoas: a criança e um adulto (professor ou familiar). Leitura para, como o nome pressupõe, é uma atividade em que alguém lê para outra(s) pessoa(s). Leitura com, tendo a participação de um mínimo de duas pessoas, implica uma participação ativa de todas. Qualquer destes três tipos de leitura pode ocorrer em diferentes idades, desde o nascimento até à adolescência, tendo em conta apenas as faixas etárias a que nos referimos neste artigo.
Então pode começar-se a ler autonomamente desde que se nasce? Como, se não se conhece o código escrito? Quando um bebé brinca com um livro de pano e se diverte a experimentar as diferentes texturas ou a produzir os vários sons que ele proporciona, está a manipular um livro, a virar as suas páginas, a utilizá-lo para criar sentido e o tornar significativo. Com o passar do tempo, a criança vai conseguir ver as figuras de um livro e criar uma história a partir delas, o que é, à sua maneira, e de forma adequada para o nível etário, ler. Se esse livro já foi lido para ela, por exemplo, pelos pais, ser-lhe-á ainda mais fácil recriar a história que já ouviu e ir-se apercebendo de que aqueles caracteres que ainda não consegue descodificar transportam essa narrativa. Com a entrada na escola e a aprendizagem da leitura, a criança poderá, finalmente, começar a fazer uma leitura no sentido tradicional do termo. Existe uma grande variedade de livros, com texto mais ou menos longo, ou até mesmo apenas com palavras associadas a imagens ou com pequenas frases. Uma seleção cuidada dos livros a oferecer a uma criança poderá ajudar a que ela consiga ler autonomamente, o que, além do prazer associado à leitura, contribuirá para a tornar uma leitora mais motivada e mais competente, sendo cada livro, com texto cada vez um pouquinho mais longo, um novo desafio.
Ler para é uma atividade que pode ser iniciada mesmo antes do nascimento, com a mãe a ler para o filho que sente dentro de si. Quando a criança nasce, desde pequena que aprecia ouvir ler e contar histórias. As histórias tradicionais, as lengalengas, as rimas têm vindo a passar de geração em geração e continuam a encantar os mais miúdos e os mais graúdos (nos quais me incluo). Quando a criança começa a aprender a ler, pode deixar de ser o sujeito passivo da atividade de "ler para" e passar a ser um sujeito ativo, lendo para os seus pais. É essencial escolher bem o texto, para que o grau de dificuldade seja adequado e o desafio não seja excessivo. Ler alto para ouvintes interessados e carinhosos é uma atividade enriquecedora que pode contribuir para o desenvolvimento de competências de leitura, como por exemplo a fluência e a entoação.
Ler com pode acontecer também desde muito cedo e, frequentemente, mistura-se com "ler para". Quando lemos uma história aos mais pequenos, tendemos a solicitar a sua participação, fazendo-lhes perguntas ou pedindo-lhes que reproduzam o som das personagens: "Então apareceu um cão: Como faz o cão?", "Nesse momento, apareceu o lobo mau. O que é que ele disse ao porquinho do meio?". Quando a criança começa a aprender a ler, ou se for mais velha e tiver ainda dificuldades na leitura, estas atividades podem ajudá-la a desenvolver competências de leitura e autoconfiança nas suas capacidades. Se a mãe ou o pai se sentarem com o seu filho em torno de um texto curto, podem desenvolver algumas atividades lúdicas de leitura: cada um lê uma frase da história; o adulto lê primeiro uma frase e a criança repete-a; o adulto lê uma frase com um erro e a criança repete-a corrigindo o erro (Ex.: O adulto lê "O boi cruzou-se com o cão." A criança repete e corrige "O boi cruzou-se com o cavalo."); as duas atividades anteriores, sendo feita a leitura de várias frases ou de um parágrafo; recorte dos parágrafos de uma história e reconstrução da história, lendo cada elemento da família o(s) parágrafo(s) que lhe coube(ram).
Quando se sabe ler bem e se desenvolveu o hábito, ler é um prazer que sabe bem ter cultivado. O percurso para adquirir esse hábito é igualmente um prazer e pode ser um prazer partilhado. Na leitura podem-se encontrar/reencontrar as gerações. Pais e filhos, avós e netos, para todos há espaço no mundo das letras e dos livros.
Armanda Zenhas
In: Educare