quinta-feira, 10 de maio de 2012

Responsabilizar pais, alunos e professores




A última prova de aferição de Português do 4.º ano que não conta para nota foi feita hoje por mais de 110 mil alunos. Os professores concordam com a mudança, que o exame deve pesar na avaliação final. A prova de Matemática é sexta-feira.Leonardo Prata, de 9 anos, sai da sua escola com o estojo na mão e um sorriso nos lábios. "Não andava nervoso", garantia a mãe que o esperava ansiosa por saber como tinha corrido a prova de aferição de Português. "Correu bem". Leonardo conta passo a passo a prova. Dois textos, várias perguntas, um convite com argumentos para ir ao Museu da Ciência, um diálogo entre a gotinha de água e o arco-íris com algumas indicações - entre as quais que pelo menos três cores fossem elogiadas. "Havia muitas perguntas, algumas eram difíceis e outras mais fáceis", refere. A confiança é que a nota será "boa". Leonardo prepara-se agora para a prova de Matemática, marcada para sexta-feira. "Prefiro estudar Matemática", confessa antes de ir almoçar. 

Rafael Carneiro, de 9 anos, também estava satisfeito com o desenrolar da prova de Português. "Havia algumas perguntas mais complicadas, mas correu bem", dizia à saída. O colega João Pedro, de 10 anos, concordava e destacava o diálogo que a prova pedia. Não tinha bem a certeza de como tinha corrido essa parte. Prova de Português feita, Matemática à vista. Marlene Almeida, professora do 1.º ciclo, assegura que os alunos da sua sala respeitaram os tempos, as regras, e estiveram atentos à leitura das instruções. A professora concorda com a alteração proposta pela tutela. Uma prova que conta para nota implicará outra envolvência dos alunos e dos pais. "Há um trabalho que é desenvolvido ao longo do ano. Se depois não conta para nota, acaba por ser desmotivante para o aluno", refere. Em seu entender, as atuais provas de aferição servem apenas para avaliar os professores. "Se não tem peso na nota, são para avaliar professores." 

Hélder Madeira, professor do 1.º ciclo, tem a mesma opinião. "É uma boa decisão", diz. Em seu entender, não faz sentido colocar os alunos sob stress ou apressar o programa se a prova não tem um impacto para quem a faz. "É necessário responsabilizar os alunos e os encarregados de educação, para que ao menos esse trabalho que fazem ao longo do ano conte para avaliação", afirma. Hélder Madeira defende que a educação não pode viver apenas com os olhos postos em números, nas estatísticas. Na sua opinião, os olhares deviam estar direcionados para a qualidade do ensino nas escolas. 

Cristina Tavares é professora de Ensino Especial e hoje acompanhou uma aluna com necessidades educativas especiais na prova de Português do 4.º ano. Uma situação que faz pensar. Cristina Tavares defende que "deve haver uma diferenciação", em moldes a analisar e a estipular pela tutela, para que alguns dos alunos com necessidades educativas especiais não tenham de responder às mesmas questões que as restantes crianças. "Eles fazem exactamente a mesma prova", repara, lembrando que há alunos com essas dificuldades que praticamente não conseguem ler no último ano do 1.º ciclo. 

Este ano, é a última vez que as provas de Português e de Matemática do 4.º ano do 1.º Ciclo do Ensino Básico não contam para a nota final. No próximo ano letivo, os exames contarão 25% para a nota final e, depois disso, passará para 30%. Hoje mais de 110 mil alunos espalhados pelas 5103 escolas do 1.º ciclo de todo o país começaram a prova às 10h00. Noventa minutos de olhos postos na prova que pretende avaliar a compreensão da leitura e o domínio da escrita em Português e os conhecimentos sobre operações, geometria e tratamento de dados em Matemática. Em 2011, as positivas chegaram aos 86,7% a Português e 79,6% a Matemática. Este ano, o Ministério da Educação e Ciência pretende que as positivas subam para os 95,3% a Português e para os 92,4% a Matemática. Os resultados são afixados a 12 de junho. 

Sara Oliveira 

Fonte: Educare