quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

35% dos alunos de 15 anos já chumbaram

O relatório Equidade e Qualidade em Educação - Apoiar Estudantes e Escolas Desfavorecidas, elaborado pela OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento), adianta que um em cada três alunos portugueses com 15 anos repetiu pelo menos um ano. Portugal é assim um dos países da OCDE com uma das taxas de retenção mais elevadas. França, Luxemburgo, Espanha e Bélgica acompanham o nosso país com mais de 30% dos estudantes na mesma situação. Percentagens elevadas para uma média de 13%. 


Retenções nas escolas significam gastos e no nosso país esse cenário traduz-se em custos diretos superiores a 12% no orçamento escolar. A Holanda é o único país da OCDE que supera Portugal nos custos com os alunos repetentes, com 15% - e tendo os mesmos 35% de estudantes com 15 anos que chumbaram pelo menos um ano. O relatório indica que os custos diretos da repetição de ano em Portugal, Bélgica, Holanda e Espanha "consomem mais de 8% do gasto anual na educação primária [1.º ciclo] e secundária". "Além disso, uma vez que os estudantes que repetem um ano são mais propensos a comportamentos de risco ou abandono escolar, a repetição aumenta os gastos noutros serviços sociais", acrescenta.

Saindo da OCDE, a taxa de reprovação sobe para os 40% no Brasil, onde os custos diretos no orçamento escolar rondam os 9%, e para os 44% em Macau. Não passar de ano tem repercussões nas verbas destinadas ao ensino em qualquer país. "Os custos financeiros da repetição de ano académico são bastante grandes, tanto individualmente como para a sociedade. Os custos diretos para os sistemas escolares são bastante elevados, uma vez que atrasam a educação e a entrada no mercado de trabalho", sublinha o relatório da OCDE.

Portugal está numa posição delicada quanto às repetências, numa altura em que a diminuição do recurso às reprovações é considerada uma medida fundamental para a qualidade da educação. "A retenção dos alunos no mesmo grau de ensino, na sequência de uma avaliação negativa, tem sido uma das principais ferramentas para responder ao fraco desempenho individual", refere-se no documento. As retenções acabam por ser encaradas pelos alunos como um castigo e não como uma oportunidade de melhorarem conhecimentos. E, por outro lado, há estudos que indicam que os benefícios dos chumbos não são tão significativos, até porque há uma desmotivação associada ao facto de trabalhar os mesmos programas pela segunda vez e ao adiamento da entrada no mercado de trabalho. 

O relatório da OCDE revela ainda que mais de 50% dos portugueses com idades entre os 25 e os 34 anos não concluíram o ensino secundário - quando a média ronda os 20%. A elevada percentagem de Portugal só é superada pela Turquia e pelo México com 62%. Do lado oposto, está a Coreia do Sul com apenas 3% dos adultos até aos 34 anos que não terminaram o ensino secundário. E quanto mais a taxa etária estica, mais Portugal fica em pior posição. Cerca de 70% da população portuguesa, dos 25 aos 64 anos, não terminou o 12.º ano de escolaridade, quando a média dos países da OCDE é de 30%. Mesmo assim, o nosso país apresenta uma das maiores taxas de empregabilidade das pessoas que não terminaram o secundário. Ou seja, cerca de 70%, que aumenta para os 80% para os que têm o 12.º ano e para 88% para os que possuem habilitações académicas.

Um em cada cinco estudantes dos países da OCDE não atinge o nível mínimo de capacidades para se movimentar nas exigentes sociedades e há países com mais de 25% de alunos de 15 anos sem capacidades básicas de literacia. "É muito provável que os estudantes que nestas idades apresentam lacunas ao nível das capacidades básicas não concluam o ensino secundário e entrem no mercado de trabalho mal preparados ou, caso prossigam os estudos, tenham mais dificuldades do que os seus pares e precisem de apoios adicionais, incluindo ajuda económica", diz o relatório. 

A crise também atinge os mais novos e o relatório da OCDE dá nota que há 15 milhões de jovens desempregados, mais quatro milhões do que em 2007. Os que têm menos estudos têm mais dificuldades em conseguir um emprego. No território da OCDE, 17% dos jovens com idades compreendidas entre os 15 e os 24 anos não têm trabalho. Em Espanha, por exemplo, mais de 40% não têm trabalho. Uma realidade que pode conduzir a um regresso à escola dos que querem aumentar as suas qualificações. "O investimento público na educação pode ser uma maneira de contrabalançar o desemprego e investir no crescimento económico futuro". 

Quanto às retenções, a Confederação Nacional das Associações de Pais (CONFAP) defende que as escolas devem ter autonomia suficiente para definirem e aplicarem respostas diferenciadas, de forma a diminuir os níveis de chumbos verificados no relatório da OCDE. Albino Almeida, presidente da CONFAP, fez as contas. "Só no ano 2007/2008, reprovaram mais de 18 000 alunos, o que representa uma perda de 53,7 milhões de euros de impostos", adiantou à Lusa. "A retenção é uma das consequências da avaliação externa a que os alunos são submetidos", acrescentou. 

Nesse sentido, a CONFAP defende a frequência obrigatória de Estudo Acompanhado, uma diferenciação de percursos para os alunos, mais autonomia para a escolas, evitar retenções. "Acumular dificuldades leva a que 30% dos alunos cheguem ao 9.º ano com pelo menos uma retenção", referiu, acrescentando que "não é ser piegas pedir a diferenciação de percursos para os alunos". Porque nem todos aprendem da mesma maneira.


Sara Oliveira


Fonte: Educare