quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Identificar palavras não foi assim tão simples

Médias das provas de aferição do 1.º e 2.º ciclos desceram ligeiramente de 2010 para 2011. Alunos revelam dificuldades em reconstituir uma sequência, na comunicação escrita de ideias e raciocínios, na resolução de problemas e na conversão do discurso indireto.

O Gabinete de Avaliação Educacional (Gave) acaba de publicar os relatórios sobre as provas de aferição de Matemática e Língua Portuguesa do 1.º e 2.º ciclos realizadas pelos alunos do 4.º e 6.º anos em 2011. É no exame de Matemática do 4.º ano que se registam os itens com menor taxa de sucesso: os alunos revelam dificuldades na exposição de ideias e na resolução de problemas, apenas 19% responderam corretamente na parte de comunicação matemática. Em termos globais, os resultados das provas realizadas por 107 271 alunos são considerados estáveis comparativamente a 2010, tendo em conta a média nacional, em que houve uma ligeira descida de 71% para 68%.

Os resultados das provas de aferição são importantes para a comunidade educativa porque podem servir de base à tomada de decisões no setor, concretamente, como adianta o Gave, na planificação e orientação de práticas pedagógicas e na definição de prioridades na formação contínua dos docentes.

Na prova de Língua Portuguesa, realizada pelos alunos do 4.º ano do 1.º ciclo, a "Leitura" é o domínio que apresenta a percentagem mais alta, com 56% dos alunos a obterem um máximo de sete respostas corretas num total de 11 itens avaliados. "Expressão Escrita" aparece do outro lado, ou seja, como a área com resultados mais baixos com uma média global de 34% de respostas totalmente corretas. O "Conhecimento Explícito da Língua" apresenta uma percentagem média global de 58% de respostas totalmente corretas.

"Constata-se que os alunos demonstram facilidade em identificar a ideia principal de um texto sob a forma de informação explícita e em identificar o referente textual de um pronome. No entanto, detetam-se maiores dificuldades, quando os alunos são solicitados a inferir a causa da alteração do comportamento de uma personagem, a reconstituir uma sequência ou a identificar uma consequência das características de uma personagem" - indica o relatório do Gave.

No geral, a média da prova de Língua Portuguesa do 1.º ciclo quase não oscilou: 70% em 2010 e 69% em 2011. Os alunos do último ano do 1.º ciclo evidenciam um melhor desempenho ao nível da Compreensão da Leitura e do Conhecimento Explícito da Língua, ficando aquém na Expressão Escrita. Por isso, o Gave faz várias sugestões: implementar atividades que favoreçam a leitura inferencial e a reconstituição de sequências textuais, abordar a escrita de uma forma mais "eficaz e aprofundada", sobretudo ao nível da sintaxe e da morfologia, insistir num ensino que favoreça o conhecimento de técnicas básicas de organização textual para a criação de automatismos e desenvoltura no processo de escrita, desenvolver estratégias que contribuam para a melhoria da prestação em termos de clarificação e desconstrução do significado da linguagem.

Também há dificuldades em Matemática, mas a média mantém-se estável com 71% em 2010 e 68% em 2011. Na prova do 1.º ciclo, 62% dos alunos responderam corretamente a mais de metade do conjunto de itens de Números e Cálculo, 80% acertaram em mais de metade do conjunto de itens de Geometria e Medida, 86% responderam corretamente em Estatística e Probabilidades e 35% acertaram em Álgebra e Funções. Os alunos apresentam uma estratégia apropriada e completa de resolução da situação, mas não acertam na resposta por erros de cálculo.

Um melhor desempenho na Estatística e Probabilidades, pior em Números e Cálculo. Os alunos demonstram um bom conhecimento de conceitos e procedimentos e uma razoável capacidade de raciocínio, as dificuldades surgem na comunicação escrita das ideias e raciocínios e na resolução de problemas. "Os resultados nesta área temática evidenciaram a necessidade de os alunos melhorarem o seu conhecimento dos números, continuando a trabalhar o sistema de numeração decimal, a par das operações. Por outro lado, devem ser criadas oportunidades para os alunos descreverem por escrito os seus raciocínios e ideias matemáticas, no sentido de desenvolverem a sua capacidade de comunicação matemática", refere-se no relatório.

Perante os resultados, o Gave sugere que a compreensão de conceitos e procedimentos não pode ser descurada e que os professores devem "proporcionar aos seus alunos frequentes experiências matemáticas envolvendo a resolução de problemas, a partilha e discussão de diferentes estratégias de resolução, a análise do seu significado e a elaboração de registos escritos relatando o trabalho realizado".

No exame de Língua Portuguesa dos alunos do 6.º ano do 2.º ciclo, os piores desempenhos estão no Conhecimento Explícito da Língua, os melhores registam-se na Leitura, em que 58% dos alunos obtiveram até um máximo de sete respostas corretas num total de 12. No domínio da Escrita, quase 90% dos estudantes conseguiram até um máximo de cinco respostas corretas. As maiores dificuldades denotam-se na identificação de palavras de diferentes classes gramaticais, na utilização de diferentes tempos verbais do modo indicativo, e em converter o discurso indireto em discurso direto.

Na prova de Matemática, os alunos do 6.º ano apresentam melhores desempenhos em Estatística e Probabilidades, com uma média de 77%. Os piores desempenhos estão na parte dos Números e do Cálculo, com uma média de 49% e na Álgebra e Funções, com 50% de média. A média global desceu de 62% em 2010 para 58% em 2011.

As notas obtidas na prova de aferição de Matemática demonstram que os alunos até têm conhecimento de conceitos e procedimentos e uma capacidade de raciocínio razoáveis, mas revelam dificuldades na resolução de problemas contextualizados bem como "uma preocupante falta de sentido crítico face à plausibilidade das soluções que apresentaram e uma manifesta dificuldade na comunicação escrita das suas ideias e raciocínios matemáticos".
Sara Oliveira
Fonte: Educare