quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

A família e o prazer da escrita


Muitas actividades práticas e/ou lúdicas podem ser realizadas pelos pais com os seus filhos para fomentar neles o gosto pela escrita e para os ajudar a desenvolver competências nesse domínio, como, por exemplo, criatividade.

São muitos os pais e os professores que se queixam de que as crianças e os jovens não gostam de escrever ou não o sabem fazer. As atitudes que os pais têm relativamente à escrita influenciam muito as dos filhos, porque lhes servem de modelo. Se a criança estiver habituada a ver a família encarar a escrita como uma actividade útil e agradável ser-lhe-á mais fácil valorizá-la e sentir-se motivada para a sua prática.

Muitas actividades práticas e/ou lúdicas podem ser realizadas pelos pais com os seus filhos para fomentar neles o gosto pela escrita e para os ajudar a desenvolver competências nesse domínio, como, por exemplo, criatividade, enriquecimento de vocabulário, coerência textual. As actividades que se seguem são apenas alguns exemplos que, além de poderem ser postos em prática na família, podem ser fonte de inspiração para outras situações, nomeadamente esta época de Natal, em que as famílias passam mais tempo reunidas.

1. História colectiva
A família inventa uma história. Um elemento faz a primeira frase. O seguinte continua a história com outra frase e assim sucessivamente. Terminada a volta por todos os familiares, inicia-se nova ronda até que alguém conclua a história. Pode também ser previamente combinado o número de voltas ou o tempo para a realização desta actividade. Neste caso, o último elemento da família na volta combinada ou a falar no tempo previsto para a conclusão termina a história. As frases podem ser escritas por quem as diz, à medida que a história vai sendo contada, ou então a actividade pode desenvolver-se em duas fases: 1.ª - a história é criada oralmente; 2.ª - a criança escreve a história e ilustra-a.

2. Jogo das rimas
Um elemento da família diz e escreve uma palavra. Os restantes, na sua vez, dizem e escrevem uma palavra que rime com essa. Quem não o conseguir fazer perde e é excluído. Ganha o último a ficar em jogo.

3. Jogo das matrículas
Num percurso de carro, os elementos da família procuram fazer palavras que incluam as duas letras da matrícula dos carros que encontram. Ganha quem fizer o maior número de palavras.

4. Letra inicial
Pede-se à criança que diga e escreva o maior número possível de palavras começadas por uma determinada letra. Essas palavras podem ou não ter de respeitar um determinado critério. Exs.: animais, nomes de pessoas.

5. Em determinadas idades, alguns jovens poderão ser receptivos à ideia de escrever um diário. Se é o caso do(a) seu/sua filho(a), ofereça-lhe um. Mas, atenção: respeite a privacidade e não procure ler o que ele(a) lá escreve.

As sugestões apresentadas têm graus de dificuldade diferentes e fazem apelo a diversos conhecimentos e competências. Devem ser seleccionadas de acordo com a idade e os conhecimentos das crianças envolvidas. No entanto todas elas implicam uma interacção positiva entre pais e filhos que proporcionará uma vivência agradável da escrita, contribuindo para que ela seja um prazer.

Olha para o que eu faço, não olhes para o que eu digo.

Dificuldade em escrever e falta de gosto pela escrita são dois problemas que afectam muitas crianças e jovens e que preocupam professores e pais. Se a escrita é uma actividade inexistente no ambiente familiar ou considerada muito difícil, as crianças crescem ignorando-a ou desenvolvendo concepções negativas a seu respeito (como, por exemplo, escrever é muito difícil, escrever é muito aborrecido ou dá muito trabalho...).

Como podem os pais contribuir para que o ambiente familiar motive as crianças para a escrita e ajude a desenvolver competências nesse domínio? Dizer que escrever é bom e paralelamente evitar realizar essa actividade é demonstrar precisamente o contrário. Torna-se necessário haver coerência entre as palavras e os actos. A realização conjunta de actividades de escrita, de carácter utilitário ou lúdico, na família é uma boa forma de incentivar o gosto por elas. Seguem-se alguns exemplos de actividades que fazem apelo a diferentes tipos de conhecimentos e implicam diferentes graus de dificuldade (estas propostas devem ser seleccionadas de acordo com o nível etário da criança e com os seus conhecimentos no domínio da escrita):

1. RecadosA comunicação na família pode, em determinadas circunstâncias, ser feita através de recados escritos. Exs: a criança chega a casa antes dos pais e estes deixam-lhe uma mensagem escrita para que não se esqueça de fazer os TPCs e de preparar a pasta para o dia seguinte; a criança pede aos pais que lhe comprem determinado material para a escola e eles sugerem-lhe que escreva um bilhete para eles não se esquecerem de o fazer.

2. Dicionário ilustradoAjude o seu filho a fazer pequenos dicionários temáticos ilustrados. Para um dicionário sobre animais, por exemplo, a criança desenha um animal ou cola uma imagem em cada folha A5 e escreve o nome dele. Pode também acrescentar um pequeno texto informativo com características desse animal. As capas podem ser feitas em cartolina, com uma ilustração adequada e o nome do dicionário e do autor (a criança). Para terminar, peça ao seu filho que fure as folhas e as capas e as una utilizando um fio ou uma fita.

3. Oferta de cadernosAdquira ou faça cadernos que sejam bonitos e fora do comum e ofereça-os aos seus filhos para que escrevam histórias e as ilustrem.

4. ConcursosHá revistas infantis e editoras de livros infantis e juvenis que promovem concursos de escrita. Incentive os seus filhos a participarem e/ou sugira aos professores que também o façam nas suas aulas.

5. Passatempos de revistasOfereça aos seus filhos revistas com jogos de palavras, tais como palavras cruzadas e sopas de letras. Se eles não mostrarem grande interesse por essas actividades, procure fazer os jogos em conjunto com eles, para que adquiram gosto e motivação. Estes passatempos contribuem para o desenvolvimento de vocabulário e para a correcção ortográfica.

Escrevendo num ambiente agradável e lúdico pode-se ganhar gosto pela escrita e pode-se aprender a escrever melhor. Ajudar os filhos a gostar de escrever é contribuir para que eles sejam mais criativos e organizem melhor e de forma mais clara o seu pensamento. Terminar o ano de 2010 a aumentar o prazer na escrita é um contributo para entrar bem em 2011, o ano de início do futuro.
Armanda Zenhas
Educare e educareII