quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Já não há perguntas fáceis: provas de aferição

(Texto escrito segundo o acordo ortográfico.)

Sete em cada dez alunos do 6.º ano não conseguem colocar por ordem alfabética uma lista de nove palavras começadas por 'm'. Surpreendente? Foi o que aconteceu no universo de 116 mil estudantes que, no final do último ano letivo, realizaram a prova de aferição de Português. Em maio, no comentário ao teste , a normalmente comedida Associação de Professores de Português admitira ter ficado admirada com a inclusão deste exercício, "por parecer pouco exigente".

Não foi o único reparo feito ao grau de dificuldade de algumas perguntas colocadas aos alunos do 4.º e 6.º ano, nas provas de aferição de Língua Portuguesa e de Matemática que, não contando para a nota, servem para avaliar o que está a ser aprendido (ou não). E o que os relatórios de análise aos testes , divulgados na semana passada pelo Gabinete de Avaliação Educacional (Gave), mostram é que nem tudo o que parece simples é.

No teste do 4.º ano, a identificação de um conjunto de palavras graves ou do sujeito e predicado em frases aparentemente simples ("O homem enviou uma carta à lua" e "A lua e as estrelas sorriram") também causou mais problemas do que seria de esperar. No caso deste último exercício, 61% dos alunos não responderam ou não conseguiram ter a cotação total.

Outra das dificuldades evidentes no Português prende-se com a compreensão da leitura, com uma percentagem significativa a não conseguir extrair dos textos ideias, explícitas e implícitas, que justifiquem determinada afirmação.

Respostas absurdas

Em relação à prova de Matemática do 6.º ano, a Sociedade Portuguesa de Matemática chegou a considerar que metade das perguntas correspondia a matéria do 1.º ciclo (até ao 4.º ano). Era o caso da questão em que se pedia para calcular um quarto de oito. O próprio Gave diz tratar-se de um "item aparentemente elementar". Mas só metade dos alunos acertou. Não foi o único exercício sobre frações onde os alunos se 'espalharam'. O facto merece uma chamada de atenção dos técnicos do Gave, que alertam para a existência de "conceções incorretas" sobre esta parte da matéria.

Outra das dores de cabeça persistentes - e comuns aos alunos do 4.º e 6.º anos - prende-se com a resolução de problemas contextualizados. Não só pela dificuldade que mostram em chegar ao resultado correto, mas porque se nota uma "preocupante falta de sentido crítico face à plausibilidade das soluções que apresentam" e "uma manifesta dificuldade na comunicação escrita das ideias e raciocínios matemáticos", lê-se no relatório do Gave relativo aos resultados nas provas do 6º ano .

Nesse sentido, recomenda-se aos professores que façam mais vezes experiências matemáticas em que os alunos tenham de resolver problemas num dado contexto, discutir estratégias de resolução, analisar o significado das soluções e comunicar os resultados a que chegaram.

Por áreas temáticas, constata-se que é nas perguntas relativas a números e cálculos que os erros mais se repetem. No teste do 4.º ano pedia-se, por exemplo, para se fazer uma simples soma de quatro parcelas (25, 4, 101 e 17). A grande maioria acertou. No entanto, 9,5% fizeram mal as contas e 3% não reconheceram a operação necessária.

Os relatórios relativos ao desempenho dos alunos, organizados por escola, turma e professor, que permitem fazer comparações e perceber onde é que os alunos estão a falhar mais ou menos, também estão disponíveis no site do Gave . Mas neste caso apenas estão acessíveis às direções dos agrupamentos.

Expresso